Desligado

Sentado observo as açoteias algarvias. Uma paz invade-me quase imediatamente e até o mais singelo e descomprometido pensamento nas preocupações da vida se dissipa por completo.
Se o facto de ser fim de semana e a ausência de apontamentos na agênda para o dia de hoje ajuda, facto é que o facto de viver numa pequena cidade à beira mar plantada que dormita sobre um sol primaveril, é a chave para tamanha qualidade de vida.
Se tanta falta sinto da turbulênta e cosmopolita Lisboa, é nestes momentos que a balança pende e tais desejos parecem não ser mais que desvaneios burgueses de uma entranhada e passada cultura urbana.
Ao fundo vejo aviões que aterram incessantemente, carregados de pessoas a quem vendo sonhos de um paraíso que muitas vezes a mim próprio me escapa.
Sábado, saturday, samstag...é um dia porreiro em que, e perdoem-me todos aqueles que hoje trabalham, não existem complicações e ainda temos o reconfortante pensamento que amanhã, amanhã ainda é Domingo.
Sentado escrevo e descrevo a boa vibe de um dia...o dia em que estava desligado!

Dentro e Fora

Clichê todos os dias renovado nos lábios de homens e mulheres, a beleza interior é exactamente o quê?
Se todos os dias cresce o numero de pessoas que nos aprecia e julga somente pelo que vê. Não falo apenas de aparência mas, talvez ainda mais importante, o estar. A pose, a forma como irradiamos confiança, determinação, sensualidade ou carinho parece ser afinal tudo o que nos define.
Se a preocupação com o que os outros pensam de nós e a nossa preocupação com a forma como somos percepcionados aumenta exponencialmente, que espaço sobra para aquilo que somos?
Se nos transformamos todos os dias na soma de aquilo que é de nós esperado, onde fica aquilo que verdadeiramente somos.
As nossas qualidades, os nossos defeitos, o nosso feitio, ou até a um nivel prático aquilo que nos faz sentir confortaveis, como roupa, postura e diálogo.
Se tudo o que somos for substituido por "peças" do que de nós é esperado, como manter o que está por dentro intacto, ou pelo menos verddeiro?
E de ti? O que sobra de ti?

Portas e Janelas

Tudo começa como uma pequena nebelina, levanta-se um vento. De repente tudo pára, em segundos desaba sobre nós o Carmo e a Trindade. Depois de meses de acalmia e quando nada o fazia prever tudo desaba. Meses de trabalho, planificação, empenho no sentido que consideramos o mais certo e que seguimos conscientemente apoiados em bases sólidas. Tudo pelo chão.
Renascer sobre as cinzas é opção para os mais fortes. Para os fracos resta um milagre. Algo que se apresente totamente fora da nossa presente situação, imaginação ou planos.
Porque quando se fecha uma porta, abre-se uma janela...

Contrariado

Porque acordei, porque não dormi, porque não me apetece trabalhar, porque está um dia lindo lá fora...porque me apetece voar.

Há dias em que acordamos contrariádos. Queremos um dia só para nós, voar da vidinha que seguimos e mudar de rumo.

Banalidades podem ser, mas são estes dias que mexem com a nossa vida. Que nos mostram quanto inconformistas somos. Como podemos querer e ter sempre mais.

Mas hoje não tive mais, conformei-me a mais um dia. Saí de casa às 8 e fui trabalhar. Despeço-me dos meus lençois e Cd's com um até breve...espero ver-vos lá para a meia noite.

Reencontros

Reencontrámo-nos não muito longe de onde nos haviamos visto da ultima vez.

Nada havia mudado a não ser os 11 anos que nos separavam e no entanto estavamos diferentes.

Tudo tinha crescido, corpo, carreiras e ambições...tudo excepto os cabelos que agora se encontravam mais curtos.

Um olhar, conversa de circunstância e alguns metros depois tudo fazia sentido. Faltava apenas o "ontem" dito como se o tivesse havido. Como se esses anos nunca tivessem passado por nós.

Esquecer, tudo o que parecia esquecido estava ali, à minha frente sentado, em frente ao Tejo.

Até o frio nos levar dali falámos do nosso dia, daquele que nos separava entre o "ontem" e o agora onde nos encontrávamos.

Tudo faz cada vez mais sentido, desde ontem que procurávamos a nossa vida e ela nos separou cada vez mais. Fisicamente estamos a centenas de quilómetros e seguimos trilhos tão distintos como se de àgua e vinho fossem antigas estradas romanas. Mas faz sentido.

Como pode fazer sentido tudo isto? Como de ontem para hoje posso questionar tudo o que tenho? Tantas escolhas feitas e consumadas...tantas certezas desfeitas.

Porque de ontem para hoje tudo pode mudar? Porque a vida é feita de reencontros...

COMECAR

Iniciar algo de novo sempre me fascinou. A adrenalina de um salto de paraquedas ou um simples espaço onde escrevo, questiono e me ofereço ao mundo são em tudo idênticas.

Por isso este blog, para que se fale e comente o que me vai na cabeça. Para que namore, insulte e acarinhe amigos verdadeiros e imaginários.

Porque sair do escritório, fechar a porta e respirar fundo é importante...mesmo quando não nos levantámos da cadeira.